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12 abril 2016

Na palma das mãos


Existiu uma época onde as fotografias eram presas em papéis. Um tempo em que se guardava em caixas de sapato memórias de uma vida.Situações e momentos eram capturados com a finalidade de eternidade e aquele pedaço de papel deixava de ser meramente um pedaço de papel para ser o registro de um sentimento.
Sempre tive essa mania. Os olhos capturavam aquilo que gostaria que se tornasse eterno pra mim. Emoções que, assim que identificadas, eram posteriormente congeladas em antigos filmes fotográficos e em seguida impressas em papel.
E assim guardei, sentimentos, emoções, momentos, histórias. Fiz da minha câmera a minha máquina do tempo e hoje posso através da imagens, relembrar, rir e chorar minhas dores, meus amores, minhas memórias. Sentir saudade daqueles que se foram, daqueles que se afastaram por vontade própria ou imposição do destino e daqueles que ainda permanecem ao nosso lado.
Reencontrei há alguns dias atrás a minha caixa de sapatos. Dentro dela inúmeras fotografias de diferentes momentos da minha vida. A empolgação foi tamanha! Uma a uma fui fotografando e enviando pelas redes sociais aos amigos que fizeram parte desses registros, percebendo que a alegria foi compartilhada e com um ato tão simples fiz a felicidade das pessoas a quem amo!
Relembrar é viver. O que esses retratos proporcionaram vão além daquilo que os olhos veem. O lugar, suas características, as pessoas que estavam ao nosso redor, o assunto do qual conversávamos, as roupas que usávamos, nossa aparência, as mudanças de postura e de forma, além de todas as memórias tão íntimas e pessoais.
Nessa era digital, onde registros são feitos de forma tão momentânea, redescobri a magia de antigos retratos em papel. Perceber que o encanto prevalece, que o beijo de saudade encontrou aquele momento insubstituível. Fazer das memórias não somente um grito de dor, mas um sorriso de euforia. Manusear histórias, sentir a vida na palma das mãos.


11 abril 2016

Pais e filhos

Tivemos sorte. Somos da geração das melhores bandas nacionais de todos os tempos. Paralamas do sucesso, Titãs, Engenheiros do Hawaii, Biquini Cavadão, entre tantas outras que embalaram nossos dias, ampararam nossas emoções e fizeram parte de nossas histórias.
Dentre todas, a mais marcante levou o nome de “Legião Urbana” que comandada pelo vocal Renato Russo, deixaram na memória e no coração os hinos de uma época. Mas de tão marcantes, suas letras ultrapassaram um tempo e contagiaram também nossos filhos e porque não dizer nossos netos, quem sabe?
Foi ouvindo canções em alto som em minha rotina que acabei fazendo com que minha filha se identificasse também. Poesia em melodia. Frases e ensinamentos que se perpetuaram e foram tomando conta do gosto dos jovens que não tiveram a oportunidade de ver Renato interpretar de forma intensa cada canção.
Então aquela frase “Isso é do seu tempo, mãe!” deixa de existir. Encontramo-nos num tempo único, dentro dos mesmos sentimentos e valores, enxergando que temos a mesma essência poética e o olhar do encanto que carregamos em nós.
Palavras nunca deixarão de ser intensas quando ouvidas de dentro da alma. A música tem esse poder de nos transportar para um determinado tempo, reviver antigas memórias e também de fazer com que seja possível reconhecer as emoções daqueles que nos colocaram no mundo.
Foi assim naquele dia dois de abril. O anúncio do show, fez com que nós, mãe e filha, duas gerações, dois tempos, nos víssemos em êxtase diante da magnitude histórica do som de Dado Vila Lobos e Marcelo Bonfá. O encontro, mesmo na ausência de Renato de Russo, tornou maciço os ideias de duas gerações.  Cantamos, gritamos, rimos e choramos na emoção de “Pais e filhos”.
Chegamos à conclusão que “É preciso amar as pessoas, como se não houvesse amanhã... Porque se você parar pra pensar na verdade não há...”.
Que “Quem me dera, ao menos uma vez, explicar o que ninguém consegue entender... que o futuro não é mais como era antigamente”.
Que “Uma menina me ensinou, quase tudo que eu sei...” e que “ainda é cedo”.
Mas, sobretudo que “Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria”.
Foi o nosso tempo!

Para você Laura Muhlen, minha filha! Extensão de minha emoção. “Somos tão jovens!”
Porque eu sou quase ela e ela quase eu!