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22 dezembro 2015

Além das aparências


Inconscientemente minha mente prepara tudo. Sei exatamente o que fazer para atingir cada um dos meus objetivos. E faço. Não há planos feitos na virada de ano, apenas sonhos e quem me vê enxerga apenas os medos e inseguranças. Foi assim quando fui aprender a dirigir. Cheguei a ouvir de um dos meus irmãos, já com a habilitação nas mãos, que ele tinha certeza de que não iria conseguir, que ele nunca me imaginava dirigindo. E sempre foi assim, minhas inseguranças sempre foram visíveis, mas minha persistência passava despercebida. Quem vê cara não vê coração.
A menina delicada e dramática sempre tem seus desejos que converte em persistência e objetivos a serem alcançados. Quando coloco uma coisa na cabeça vou até o fim. É verdade que choro muito no caminho, enfrento os monstros que me perseguem, mas isso não significa que desisto fácil. Na verdade, não desisto nunca.
A cada ano uma conquista. A cada ano uma nova história. A cada ano novas vitórias. Por trás da sensibilidade e da insegurança existe uma força que caminha junto. Por trás dessa mania de sentir há coragem e luta.
Por isso acredito tanto no poder de uma vontade, dessas que vêm do coração. Quando há o desejo de que algo aconteça, não há fantasma que nos segure. Há que se ter a força do querer em cada objetivo de vida. Há que se ter pés firmes nos passos que pretendemos dar. Sempre haverá empecilhos pelo caminho, mas nada pode interromper os planos. Os muros não são intransponíveis e as correntes podem ser cortadas. Sempre haverá aquela chave escondida para abrir a porta que quer ser aberta.
Por isso, nunca subestimei a capacidade de quem quer que seja. Pessoas aparentemente comuns podem ter destinos surpreendentes. Nem tudo é o que aparenta ser. Existem coisas que o os olhos não conseguem ver.

08 dezembro 2015

Cenário



Olho pra trás e vejo aquela atmosfera surgir diante de mim. Sinto cheios, ouço vozes, vejo as marcas do tempo, quase posso tocar o chão. A magnitude do ambiente invade os poros.
O céu ainda escuro começa a mostrar os primeiros raios de um dia cheio de surpresas. A imagem começa a ser modificada. Do ambiente solitário começam a surgir os personagens de um tempo mágico.
O palco desse teatro ainda permanece intacto na mente. O carrinho de sorvetes com minha família debruçada nele, o carrinho de pipocas, a barraquinha de lanches. Na calçada os painéis de objetos de devoção religiosa, amuletos de uma fé inabalável pela Santa Aparecida. As portas de aço dos estabelecimentos se abrem e os romeiros perambulam por todos os lados. Os fotógrafos com suas antigas máquinas capturam sorrisos, muitos passarinhos surgiam para realizar essa curva na face. De fundo, a primeira casa de Nossa Senhora, com os ruídos rotineiros e as canções de fé.
Era dia longo de trabalho e nosso teto era o céu que por vezes ardia em nossas cabeças, noutros caía em chuva de bênçãos. Os ponteiros do relógio giravam apressados na torre. Logo as badaladas anunciariam o meio do dia.
Os apressados momentos na luta pelo “ganha pão” não dispensavam um papo entre os amigos que fizemos. Éramos todos, uma grande família. O que seria de nós sem aqueles sorrisos? Companheirismo!
Quem vai pagar o cafezinho no Hotel Recreio? Qual dos fotógrafos faria o retrato daquele momento de total descontração e união? Uma verdadeira farra feita entre comerciantes que aliviavam os cansaços e nos davam forças para chegar ao momento tão esperado: a badalada das seis onde sinos anunciavam que o repouso estava por vir.
Foi assim durante longos anos. Num local histórico, fizemos nossa história também. Escrever sobre uma época é um convite para viajar no tempo, podendo sentir novamente tantas emoções.
A Praça Nossa Senhora Aparecida foi o cenário dessas memórias e é dali que surgem as saudades de pessoas especiais e eternas em nossos corações. Quando a visito atravesso o portal de um tempo para reencontrar os personagens de uma vida.


Nós



Ubuntu. Palavra estranha, não é? A li pela primeira vez num comentário de uma amiga em uma postagem. No momento em que a li, pensei que ela deveria ter cometido um erro de digitação. Será que ela estava digitando “Bunito”?

Passamos, eu e amigos de longa data, por uma decepção. Estávamos todos em um momento de euforia. Sabe quando atacam alguém de sua família e a revolta toma conta de tudo. Foi assim. Mas algumas situações vêm para nos ensinar muitas coisas, nos fazer lembrar daquilo que é essencial, insubstituível.
Ser atacada por algo ou alguém dói, né?  Pois é, doeu. Foi como bater o dedinho numa quina qualquer. E é assim, quando nos sentimos atacadas sai logo um palavrão para ver se ameniza essa angústia de ser ferida.
Foi neste momento que recebi o vídeo de Thiago Rodrigo, explicando o significado dessa palavra que mencionei no começo do texto. Quanta emoção eu senti ao ouvir tudo que ele disse. E sendo assim, resolvi escrever sobre isso com finalidade de disseminar essa filosofia tão esquecida no nosso dia-a-dia.
No vídeo, Thiago narra a história de um antropólogo que propôs ao final de um dia de trabalho, em uma aldeia africana, uma brincadeira com as crianças da região. Colocou embaixo de uma árvore um cesto cheio de doces e explicou a eles que iriam disputar uma corrida: quem chegasse primeiro ganharia o prêmio. As crianças se organizaram e ele disse: “Já”.
Neste momento, todos os pequenos deram as mãos e correram juntos, alcançaram o cesto juntos e comemoram juntos. Surpreso ao ver a situação, uma das crianças usou a expressão: “Ubuntu, tio! Como uma de nós poderia ficar feliz, se todas as outras ficariam tristes?”.
Ubuntu é uma filosofia africana cujo significado se refere à compaixão. Trata-se de um conceito amplo sobre a essência do ser humano e a forma como se comporta em sociedade. Para os africanos, Ubuntu é a capacidade humana de compreender, aceitar e tratar bem o outro, uma ideia semelhante à de amor ao próximo. Ubuntu significa generosidade, solidariedade e o desejo sincero de felicidade e harmonia entre os homens.
Altruísmo resume todo esse sentimento. Colocar-se no lugar do outro é uma das atitudes mais difíceis de praticar, pois exige uma reflexão humana acerca das situações vividas. Quando um ser humano comete uma atitude ofensiva, agressiva com outro ser humano, perplexos ficamos, porque de alguma forma, como diz Thiago em seu vídeo, somos afetados quando seu semelhante é afetado.
O mundo carece desse sentimento de amorosidade, desse sentir pelo outro, pois nada somos sozinhos.  E no meio do caos em que NÓS, eu e meus amigos, companheiros de vida, descobrimos essa palavra e  tudo que ela significa. Encontramos em nós esse espírito Ubuntu.
No meio da tempestade, mesmo sendo atacados e ofendidos, voltamos a ouvir os sorrisos. Comemoramos e sofremos juntos, assim como as crianças da aldeia africana. Chegamos ao cesto juntos recebendo o maior prêmio de todos: as gargalhadas de orgulho próprio. Percebemos que a maldade humana não nos atingiu, reconhecemos nosso valor. Tão bom ser "nós". Nó aperta, não é qualquer um que desata. Ele é firme e intenso e os ruídos que vieram com a tempestade tornaram- se música para nossos ouvidos. Pegamos o que tínhamos, recortamos e colamos no peito. Nossa marca, nosso brasão.
Que neste final de ano possamos fazer nascer em nós esse espírito de unidade. Que possamos ser NÓS. Ubuntu para mim, para você, para a sua família, para todos nós! Feliz natal e um 2016 cheio de mãos dadas!!!
[Vídeo de Thiago Rodrigo, disponível no Youtube, no link: https://www.youtube.com/watch?v=gpIEHRukIfE]





Confesso


Não foi declaração.
Foi confissão.
Um quase que permanecerá incerto.
Um caminho sem destino.
Um encanto sem encontro.
Um desejo sem coragem.
Um fascínio sem lógica.
Uma espera sem esperança.
Uma nostalgia sem lembrança. 
Um pra quê sem porquê.
Uma rua sem saída.

Uma música sem notas.
Uma palavra sem voz.
Um pensamento sem freio.
Um barulho no silêncio. 
Um poema sem rima ou uma rima sem poema?
Não.

Foi só uma inspiração sem explicação.