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12 março 2016

Ruínas

Hoje foi um daqueles dias que não coloquei as lentes. Não quis enxergar o mundo com o brilho que ele tem. O escuro do poço dominou tudo, nem precisei corrigir os efeitos da miopia. Enxergar a realidade das diferenças iria aumentar a dor. Melhor ficar quietinha, de olhos fechados, guardando somente o brilho de outros tempos. E eles existiram. 
Fui na sacada olhar o céu como de costume. Encontrar o amor de minha mãe nessa lua banana de hoje. Recolhi meus cacos e voltei pra cama, sabendo que o que eu sinto, não importa o que eu diga, jamais será compreensível. Estou falando outras línguas, me enrolando em palavras que não existem ou não podem ser traduzidas por aqueles que não possuem a mesma sensibilidade.
Hoje a dor doeu ardida, ralada, sofrida. Senti a presença dos anjos que me envolviam na tentativa inútil de fazer com que eu me sentisse melhor. Perdas são íntimas. Só perde quem já teve um dia e eu já nem sei se tive.
Agora, nessa noite úmida de chuvas incontroláveis e trovões escandalosos, faço minha prece, observando o sono tumultuado daqueles que são pedaços de mim, analisando o tamanho do estrago feito pela tempestade.
O que me resta agora? Não sei. O que virá amanhã? Também não faço ideia. Só sinto que não domino os efeitos dessa natureza da qual faço parte. A raiz, machucada pede socorro. Precisa estar forte para não tombar com os ventos que virão. Talvez precise da cápsula de vidro ou não. Talvez apenas siga enfrentando o caos. Uma flor em meio as ruínas, clamando por uma razão de existir.

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