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15 junho 2015

O sorriso de Deus






Isso acontece com frequência. Enquanto eu paro em uma lembrança qualquer, uma criança que está por perto me olha e sorri. Nos meus momentos mais reflexivos, em oração, esse pequeno olhar me captura e volto de onde estou para contemplar esse sorriso. Foi assim hoje durante a missa. Acho que deve ser Deus sorrindo pra mim.

10 junho 2015

Causos do meu avô: O Santo Antônio





Havia naquele tempo um respeito inabalável por aqueles que nos colocaram no mundo. São nas histórias de nossos antepassados que descobrimos que apesar de nossas imperfeições, existe sempre um aprendizado, uma lição a ser admirada e porque não seguida. Meu avô era uma criança e como toda criança, carregava em si a vontade de possuir aquilo que tanto lhe encantava os olhos.
Seu pai, meu bisavô, tinha como objeto de estimação um belo canivete. O menino Henrique admirava o pertence de seu pai. Havia nele o grande desejo de ter um objeto como aquele. Passava os dias a contemplá-lo e num súbito de desobediência, certo dia, teve a coragem de pegá-lo para si. Sabia, no entanto, que o feito não era uma atitude louvável e também tinha consciência que se descoberto, seu castigo estaria mesmo por vir. Sentindo falta do canivete, seu pai procurou incansavelmente sua relíquia mais querida.
Homem de religiosidade constante tinha em sua rotina diária as orações que prontamente o socorria nos momentos de dificuldade. Anunciou então que faria uma oração, conhecida como “Responso de Santo Antônio” para encontrar o canivete perdido. Reforçou ao filho que seria uma oração poderosa do mundo e receberia com absoluta certeza a graça que havia pedido.
Arrependido, o pequeno Henrique se viu diante de um conflito. Sua consciência pesava.  Contar a verdade teria como consequência o castigo e a decepção que causaria ao seu querido pai. Diante disso, o menino resolveu então dar um fim no canivete. Em uma caminhada na beira do rio, entre algumas pedrinhas que jogava foi também para o fundo das águas o objeto que tanto desejou. Foi a maneira mais segura que ele encontrou de que o canivete nunca mais fosse visto e nesse rompante desafiou os poderes de Deus:
-Quero só ver Santo Antônio tirar esse canivete do fundo do rio!
As orações seguiam. Diariamente o pai repetia os versos em voz alta:


Se milagres desejais
Contra males e o demônio
Recorrei a Santo Antônio
E não falhareis jamais.

Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro e a morte.
Quem é fraco fica forte
Mesmo o enfermo fica são.

Rompem-se as mais vis prisões
Recupera-se o perdido.
Cede o mar embravecido
No maior dos furacões.

Penas mil e humanos ais
Se moderam, se retiram:
Isto diga os que viram,
Os paduanos e outros mais.

Eis que, numa certa manhã, Henrique foi surpreendido quando anunciaram o aparecimento do canivete em cima da mesa. Ao analisar o objeto, ele ainda pôde perceber que se encontrava sujo de terra parecendo mesmo ter saído do fundo das águas.
Pela primeira vez na vida aquele pequeno presenciou um milagre acontecer. Aprendeu naquele dia que não há desafios para os poderes divinos. Passou toda a sua vida sem revelar ao seu pai sua atitude pecaminosa, mas narrou aos filhos a fim de fazê-los acreditar, que toda oração feita com fé tem sim o seu poder e há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.
Rogai por nós Santo Antônio!

04 junho 2015

Perto do céu




Foi olhando para as montanhas mais altas que pude imaginar a solidão que preciso. Quanto mais alto, mais perto do céu. É nas alturas que me imaginei e estando lá, lembrar-me do abraço perfeito, do colo mais aconchegante, do olhar mais sincero e do coração mais feliz. Por vezes me pego a contemplar as verdejantes montanhas que me cercam Flutuo no mais louco e maravilhoso sonho de estar com você.

02 junho 2015

Meu poeta

Foi lendo "Meu pé de laranja lima"
que um dia ela sonhou.
Queria um filho poeta
e então profetizou.

Preparou o seu menino,
com camisa e gravata.

Um retrato pro seu livro,  
com carinho ela tirou. 

Mas o então poeta, 
que surpresa
em seu cantor se transformou.

Cantava pra ela do fundo da alma
e ela muito se emocionou.


O poeta? Eu seria, quem diria...

E ela contente suspirou.

Hoje escrevo tantas memórias,

nossas histórias.
Com meu livro ela sonhou.


Foi com pérolas douradas

encantadas
que ela enfim se realizou.

A lua


Ela gostava de olhar para o céu. À noite, subíamos no terraço para contemplar a lua. Ela sentada na cadeira, eu a colocar a roupa no varal. Era sempre assim. E mesmo com os olhos embaçados ela buscava aquele ponto iluminado:
-Onde está a lua filha?
Eu direcionava seu olhar. Ela direcionava minha emoção.
-Está logo ali mãe.
Hoje olho para o céu à sua procura.
Porque a saudade trás você de volta. E eu? Eu sinto.