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29 setembro 2015

A matemática da coisa

 
 
Números. Eles nos perseguem. Desde o nosso nascimento, saímos da maternidade com vários deles nas costas. Temos a data de nascimento, o peso e a altura. Logo começam as datas: dia de vacinas, do médico e a contagem dos dias. O tempo passa um pouquinho e zapt! Já completamos logo o primeiro ano.
O tempo é o mais impiedoso das medidas, o calendário anda junto conosco e algumas famílias insistem em anotar tudo direitinho (Eu, por exemplo...risos). Tem o dia de tudo, a primeira vez de cada situação importante que nos acontece.
Na escola, a professora tem o dever de nos ensinar a contar. Conhecimento importante para que possamos exercer nossa cidadania com plenitude. É preciso saber identificá-los em várias situações, fazer a leitura deles em todos os ambientes. Calculamos nosso dinheiro, estipulamos metas para o ano e corre! Os números nos aceleram, notas e prazos a todo momento. Temos que ser rápidos e espertos.
Na juventude, vamos lá! Identificamos a importância da balança para se ajustar as medidas padrões de uma sociedade visual. Estar fora deles causa certa estranheza, parece que não somos desse mundo, não é? Alguns números a mais ou a menos e pronto, está feita nossa desordem psíquica.
Datas para lembrar, chega seu aniversário. Passou dos 30, não casou? Ah, que problema! Está casada, teve filhos: Oh! Está condenada! Os padrões sociais estão sempre preocupados com a matemática da coisa. As medidas, sejam elas quais forem, caminham conosco e nos vemos presos em convenções que não nos pertencem. Ou nos pertencem até demais.
Como não sou de exatas, (sou de humanas...rs) prefiro analisar os detalhes que acontecem em minha vida por outro ângulo. Um ano a mais passou? Ganhei experiência. Faço anos com o mesmo entusiasmo de quem completa 18 aninhos. A roupa não me serve? Compro um número maior (ou menor...rs), me adapto as mudanças que acontecem em meu corpo sem me deixar abater. Lembranças do passado me povoam a mente? Lembro delas com carinho e revivo aquelas que me fizeram feliz. A grana está curta? Reclamo sempre, mas continuo trabalhando e vou seguindo até que as coisas se ajeitem. Sofro com alguma situação? Essa é fácil: poetizo! Escrevo para amenizar as dores e esvaziar-me do fel.
Enfim, a matemática está aí para quem quiser fazer dela um estilo de vida. Não há como fugir da contagem do tempo e de outras medidas da vida. O que sabemos e que ele passa e passa rápido demais. Não dá para negar a importância e a influência da matemática na nossa trajetória, mas que não deixemos escapar de nós a capacidade do encanto. Que sejamos capazes de medir o tamanho da nossa emoção e dos nossos sentimentos. Que possamos nos lembrar daquilo que fez palpitar o coração. Que o olhar seja tão importante quanto o peso. Que hajam suspiros, canções e poemas para nos fazer sorrir. E quando essa contagem terminar, tenhamos a certeza de que aproveitamos bem cada respirar. Não quero apenas recordar quantos dias se passaram, quero é saber quantas vezes parei no tempo para lembrar das sensações que fizeram ser quem sou.

09 setembro 2015

Estações




Mais uma primavera se aproxima. Estação da mais bela criação de Deus: as flores. Foi em uma dessas primaveras que Ele concedeu a você uma vida. Vida essa recheada de surpreendentes momentos. Ouvia cada história, cada confissão, cada declaração com a atenção de quem gosta de histórias. Com cada uma delas cresceu em mim esse gosto pela literatura.
Fiz parte dos capítulos mais românticos. Nasci de uma história de amor e quanta felicidade isso me causa. Anos e anos a fio em sua companhia, aprendendo com você aquilo que é essencial para se viver plenamente. Ensinamentos enriquecedores e a sensibilidade dos poetas.
Foi com você que tive a vontade de versar, de escrever o que vivo e o que sinto e gostar dessa maneira romântica de levar a vida. Foi com você que senti o calor de um verão, que pude sentir queimar em mim a vontade de viver intensamente cada respiração. Foi com você que permiti o outono chegar, ver as folhas partirem na certeza de que novamente iria florir. Que as perdas são necessárias para que novas mudas possam crescer nesse jardim por vezes tão cinzento.
Foi com você que senti o frio de um inverno, vi chegar as carências de um abraço quente. Inverno que trouxe o aprendizado: não somos felizes sozinhos. Que precisamos de uns aos outros para que possamos nos aquecer diante das tantas dificuldades que a vida nos impõe e que podemos ser mais quando estamos juntos. Que podemos superar todos os ventos que cortam nossa face apenas com o calor humano que trazemos no coração.
Foram 71 primaveras de vida. Trinta e seis delas ao seu lado, passando por todas as estações que Deus permitiu que vivêssemos juntas. Neste ano, virá outra primavera, a primeira delas sem você. Terei que suportar todas as outras estações sem a sua presença, vivendo todos os infortúnios de cada uma delas, mas carregando em mim todas as memórias. E como sou grata por isso.
Virá agora a primavera mais cinzenta de minha vida. Minha rosa já não vive mais. Mas fui cativada por ela e sobrevivo com as recordações que deixou em mim, com todas as lembranças de momentos indescritíveis ao seu lado. Usando a frase de Antoine de Saint-Exupéry de quem tanto admiramos juntas, sintetizo os sentimentos que carrego no coração:
“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”
Você cativou-me mãe e estarei sempre com meus pensamentos em ti, minha rainha!
Seria seu aniversário neste 21 de setembro, mas as lembranças que trago no peito fazem com que eu seja grata por cada respirar ao seu lado. Amo-te! Além da vida!