Hoje foi um daqueles dias que não coloquei as lentes. Não quis enxergar o mundo com o brilho que ele tem. O escuro do poço dominou tudo, nem precisei corrigir os efeitos da miopia. Enxergar a realidade das diferenças iria aumentar a dor. Melhor ficar quietinha, de olhos fechados, guardando somente o brilho de outros tempos. E eles existiram.
Fui na sacada olhar o céu como de costume. Encontrar o amor de minha mãe nessa lua banana de hoje. Recolhi meus cacos e voltei pra cama, sabendo que o que eu sinto, não importa o que eu diga, jamais será compreensível. Estou falando outras línguas, me enrolando em palavras que não existem ou não podem ser traduzidas por aqueles que não possuem a mesma sensibilidade.
Hoje a dor doeu ardida, ralada, sofrida. Senti a presença dos anjos que me envolviam na tentativa inútil de fazer com que eu me sentisse melhor. Perdas são íntimas. Só perde quem já teve um dia e eu já nem sei se tive.
Agora, nessa noite úmida de chuvas incontroláveis e trovões escandalosos, faço minha prece, observando o sono tumultuado daqueles que são pedaços de mim, analisando o tamanho do estrago feito pela tempestade.
O que me resta agora? Não sei. O que virá amanhã? Também não faço ideia. Só sinto que não domino os efeitos dessa natureza da qual faço parte. A raiz, machucada pede socorro. Precisa estar forte para não tombar com os ventos que virão. Talvez precise da cápsula de vidro ou não. Talvez apenas siga enfrentando o caos. Uma flor em meio as ruínas, clamando por uma razão de existir.
12 março 2016
06 março 2016
Feridas
Somos feitos de invisíveis feridas expostas. Se alojam em nós. Convivemos com elas, levando-as a todos os lugares. Expostas, mas imperceptíveis a olho nu. Algumas de grandes proporções, outras amenas, além das que já cicatrizaram.
Um corpo e suas marcas na alma. Todos temos. Mas é preciso continuar a viver mesmo com a ardência que elas provocam. Levamos nossos machucados pra passear, pra trabalhar, para fazer nossas obrigações. Levantamos da cama com elas queimando em nós e anestesiados, camuflamos a dor com um sorriso para estarmos prontos a quem precisam de nós, mesmo que feridos.
O remédio para tudo que sangra está no carinho e no amor que recebemos gratuitamente. Há os generosos que despretensiosamente oferecem a luz, o vento, o bálsamo que alivia os sintomas dessa inflamação que teima corroer nosso ser.
É preciso tempo. Combater nossas escaras com cuidado. E assim seguimos, na luta por um dia viver sem dor, apenas levando o alívio a outros corpos que sofrem do mesmo mal. Ser poesia em meio ao caos.
Um corpo e suas marcas na alma. Todos temos. Mas é preciso continuar a viver mesmo com a ardência que elas provocam. Levamos nossos machucados pra passear, pra trabalhar, para fazer nossas obrigações. Levantamos da cama com elas queimando em nós e anestesiados, camuflamos a dor com um sorriso para estarmos prontos a quem precisam de nós, mesmo que feridos.
O remédio para tudo que sangra está no carinho e no amor que recebemos gratuitamente. Há os generosos que despretensiosamente oferecem a luz, o vento, o bálsamo que alivia os sintomas dessa inflamação que teima corroer nosso ser.
É preciso tempo. Combater nossas escaras com cuidado. E assim seguimos, na luta por um dia viver sem dor, apenas levando o alívio a outros corpos que sofrem do mesmo mal. Ser poesia em meio ao caos.
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