Havia naquele tempo um
respeito inabalável por aqueles que nos colocaram no mundo. São nas histórias
de nossos antepassados que descobrimos que apesar de nossas imperfeições,
existe sempre um aprendizado, uma lição a ser admirada e porque não seguida. Meu
avô era uma criança e como toda criança, carregava em si a vontade de possuir
aquilo que tanto lhe encantava os olhos.
Seu pai, meu bisavô,
tinha como objeto de estimação um belo canivete. O menino Henrique admirava o
pertence de seu pai. Havia nele o grande desejo de ter um objeto como aquele.
Passava os dias a contemplá-lo e num súbito de desobediência, certo dia, teve a
coragem de pegá-lo para si. Sabia, no entanto, que o feito não era uma atitude
louvável e também tinha consciência que se descoberto, seu castigo estaria
mesmo por vir. Sentindo falta do canivete, seu pai procurou incansavelmente sua
relíquia mais querida.
Homem de religiosidade
constante tinha em sua rotina diária as orações que prontamente o socorria nos
momentos de dificuldade. Anunciou então que faria uma oração, conhecida como
“Responso de Santo Antônio” para encontrar o canivete perdido. Reforçou ao
filho que seria uma oração poderosa do mundo e receberia com absoluta certeza a
graça que havia pedido.
Arrependido, o pequeno
Henrique se viu diante de um conflito. Sua consciência pesava. Contar a verdade teria como consequência o
castigo e a decepção que causaria ao seu querido pai. Diante disso, o menino
resolveu então dar um fim no canivete. Em uma caminhada na beira do rio, entre
algumas pedrinhas que jogava foi também para o fundo das águas o objeto que
tanto desejou. Foi a maneira mais segura que ele encontrou de que o canivete
nunca mais fosse visto e nesse rompante desafiou os poderes de Deus:
-Quero só ver Santo
Antônio tirar esse canivete do fundo do rio!
As orações seguiam.
Diariamente o pai repetia os versos em voz alta:
Se milagres desejais
Contra males e o
demônio
Recorrei a Santo Antônio
E não falhareis
jamais.
Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro e
a morte.
Quem é fraco fica
forte
Mesmo o enfermo fica
são.
Rompem-se as mais vis
prisões
Recupera-se o perdido.
Cede o mar embravecido
No maior dos furacões.
Penas mil e humanos
ais
Se moderam, se
retiram:
Isto diga os que
viram,
Os paduanos e outros
mais.
Eis que, numa certa
manhã, Henrique foi surpreendido quando anunciaram o aparecimento do canivete
em cima da mesa. Ao analisar o objeto, ele ainda pôde perceber que se
encontrava sujo de terra parecendo mesmo ter saído do fundo das águas.
Pela primeira vez na
vida aquele pequeno presenciou um milagre acontecer. Aprendeu naquele dia que
não há desafios para os poderes divinos. Passou toda a sua vida sem revelar ao
seu pai sua atitude pecaminosa, mas narrou aos filhos a fim de fazê-los acreditar,
que toda oração feita com fé tem sim o seu poder e há mais coisas entre o céu e
a terra do que supõe nossa vã filosofia.
Rogai por nós Santo Antônio!
Nenhum comentário:
Postar um comentário