E um belo dia, resolvo dar minha "cara à tapa". De
repente, por motivos inesperados, coloco no papel uma ideia, um sentimento ou
uma situação. Eu e essa mania de fazer diários. Tão de repente tudo aquilo que
sou sai em voo livre e pousa no papel em forma de palavras. Já dizia Tom Waits:
"escrever é caçar pássaros sem matá-los". Tudo se transforma num
motivo para registrar e nos textos revelo aquilo que sou e a quem pertenço.
Há que se ter muita coragem para tamanha audácia. Revelar-se
não é uma atitude fácil. Mas cresci cercada de histórias, me apaixonei por elas
e todos os momentos vividos foram tão intensos que não couberam dentro de mim.
Sentiram a necessidade de voar.
Sou aquela lembrança de um dia de chuva com barquinhos navegando
ao meio fio, carinhosamente feito por papai para me ver feliz. Sou o afago
carinhoso das mãos de mamãe, naquele dia em que tive medo de tomar injeção. Sou
o olhar carinhoso de minha professora ao se despedir depois de um dia cansativo
de aulas. Sou os momentos indescritíveis que vivi ao lado de meus irmãos
naquela antiga casa de esquina. Sou aquele rosto corado e tímido depois de
receber um poema de amor. Sou a alegria de ver gerar em mim as filhas que
esperei tão ansiosamente. Sou as renúncias, os medos, as inseguranças e todos
esses sentimentos que carreguei por tanto tempo no peito. Sou a persistência, os
desejos, os planos e os sonhos que guardo no coração. Sou a coleção de
histórias vividas, de emoções e buscas e escrever revela tudo aquilo que um dia
habitou em mim.
Foi lendo os mais preciosos registros históricos que tive a
vontade de também guardar, de alguma forma, todas os momentos que um dia
fizeram parte da minha vida. Foi com as palavras, que tocaram profundamente meu
ser, que resolvi também fazer memórias em meio as mazelas da vida. Fazer
história da nossa história.
Por isso, sinto a necessidade de agradecer a essas pessoas
que contribuem nessa minha caminhada literária, que permitem que toda essa
sensibilidade se transforme em páginas do livro de minha vida.
Eu escrevo, ele escreve, nós escrevemos, eles escrevem. É a
nossa história, aquela que tanto queria ter: nossas palavras! E que elas sejam
sem fim...
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